quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Uma briga por R$ 5 com cobradora de ônibus

Se você acha difícil o trabalho de cobrador de ônibus no Brasil, vá para Belarús que você vai ver o que é dificil. Lá cobrador, ou melhor, cobradora, passa o tempo toso de um lado para outro de ônibus para cobrar a passagem de todo mundo, enquanto passageiros entram e saem por todas as portas.

A passagem de ônibus em Belarús custa atualmente 1700 rublos belarussos (R$ 0,41) em Minsk e  1400 rublos belarussos (R$ 0,31) no resto das cidades.

Usuários da internet belarussa ficam chocados por causa do vídeo da minha cidade natal de Navapolack (se pronuncia Navapolatsk), onde dá para ver como os passageiros estão batendo na cobradora:

A cobradora está de uniforme de azul e amarelo

Aconteceu o seguinte: Estava no ônibus uma família - mãe, pai, um filho pequeno (menos de 7 anos, que pode viajar de ônibus de graça) e um filho estudante da escola. É difícil entender por que, mas estudantes de escola vão de ônibus de graça só em Minsk, no resto das cidades eles têm que pagar a passagem inteira. Os pais, talvez, acharam isso injusto, pois compraram passagens só para si. A cobradora veio reclamar, tentando cobrar multa pela falta de passagem para criança (cerca de R$5), os pais falaram que já esctavam chegando no ponto que eles precisavam e tentaram sair do ônibus, mas a cobradora tentou "sequestrar" o estudante e outro passageiro veio bater nela e pegar ela no cabelo, tirando ela de ônibus com ajuda de mais um passageiro. Interessante, que ninguém foi defende-la. A cobradora depois foi à polícia, falou que homens que a atacaram estavam bêbados (o que é muito provável, raramente belarussos sóbrios têm tanta coragem), mas até agora não conseguiram achar nem esses homens, nem os pais, que não queriam pagar a multa.

É dificil dizer quem está certo, parece mais que todo mundo estava errado. Mas eu já tinha percebido antes que cobradoras belarussas (tem mais mulheres nessa profissão, ao contrário do Brasil) são em geral mal humoradas e violentas.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A łacinka belarussa e o metrô

Como já tinha escrito neste blog, em Belarús hoje têm duas línguas oficiais - belarussa e russa. As duas têm escrita em cirílico, com algumas letras diferentes. Infelizmente, a língua russa hoje é mais usada, inclusive no governo, documentos oficiais, educação, etc. Por causa disso fica difícil fazer transcrição dos nomes próprios e geográficos para o alfabeto latino, ainda mais, quando alguns nomes são traduzidos de belarusso para russo. Por exemplo, meu nome é Volha, mas em russo se torna Olga, Ryhor em belarusso vira Grigóriy em russo, Żmicier vira Dmitriy, etc. Mesma coisa com cidades - Viciebsk ou Vitebsk, Hrodna ou Grodno, etc. Acontece muito que botam nos mapas o nome russo, o que não é justo, porque a língua nacional de Belarús é belarusso.

Hoje em dia a língua belarussa se escreve em cirílico. Mas nem sempre foi assim. Ainda no começo do seculo XX se usava a "łacinka" (pronuncia-se "latsínka") - belarusso escrito com o alfabeto latino. O primeiro jornal belarusso, o "Naša Niva" ("Nacha Niva") até 1911 era publicado em duas versões - uma no alfabeto cirilico e outra em latino. Muitos poetas belarussos naquela época escreviam justamente em "łacinka".

"Łacinka" belarussa

Na União Sovietica, o alfabeto latino em belarusso não era usado. Agora, aos poucos, está voltando a tradição de usar esse alfabeto (Uladzimir Arlou, por exemplo, lançou o último livro de seus poemas em "łacinka"), ainda mais que isso é muito útil para transliteração. Pouco tempo atrás renovaram o esquema do metrô de Minsk (capital de Belarús), que atualmente tem nomes das estações escritas em belarusso cirílico e belarusso latino:
O esquema do metro de Minsk. Fonte: http://www.nemiga.info/raspisanie/metro-minsk.htm

domingo, 25 de novembro de 2012

Amanhecer na vila

Estou publicando aqui uma xilogravura minha que representa um pouco a realidade de vila belarussa =)
Amanhecer na vila. 13x22 cm. Volha Yermalayeva. Xilogravura, 2012
Meus outros trabalhos de xilogravura vocês podem ver no blog que eu criei especialmente para isso: http://gravuras-de-volha.blogspot.com.br/

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Como é a língua belarussa

A redação do jornal belarusso da internet "KY" fez nuvens de tags das obras de literatura belarussa, para ver, como é a língua belarussa na realidade vizual. Atualmente belarusso se escreve em alfabeto cirílico.

As palavras mais frequentes são "ШТО" - "o quê" e "ЯК" - "como".

Vejam aqui 10 obras em núvens de tags:
Mikola Husoŭski "Canção sobre o bisão" ("Pieśnia pra zubra")

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um brasileiro apaixonado por Belarús

Já tinha postado nesse blog video duma brasileira, cantando em belarusso, não sabendo o idioma.

Agora estou postando aqui outro video do tema belarusso-brasileiro, que ficou muito famoso na internet entre belarussos. 

É uma reportagem da Belsat, canal de TV belarussa, sobre Paterson Franco, brasileiro, que aprendeu a língua belarussa em 6 meses e até participou num espetáculo baseado na peça "Paulinka" de Janka Kupala, grande poeta de Belarús. 

Assistam ao video com legenda em português:


P.S. e sim, Volha Yermalayeva do vídeo sou eu =)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ursinhos-terroristas

Uma amiga minha me contou, que a empresa onde ela trabalha encomendou noutra empresa uns brinquedos (ursinhos, coelhinhos, etc.), para dar de presentes para filhos de clientes (no natal, por exemplo) e tinham que os entregar no escritório. Só que a porteira não deixou eles entrarem com os brinquedos e chamou a polícia, falando que isso era manifestação política contra o governo, tratando-se de terrorismo. Parece absurdo, né?

É porque ainda em agosto uns pilotos suecos ilegalmente atravessaram a fronteira aérea de Belarús e "bombardearam" o país com ursinhos de pelúcia, segurando placas: "Liberdade para Belarús". As forças aéreas nem perceberam nada.

Os ursinhos voando de pára-quedas. Naviny.BY
Quando os suecos botaram o vídeo desse ataque no youtube, o governo primeiro falava que não foi nada e que era tudo photoshop. Mas, descobrindo a verdade, Lukashenko demitiu o chefe das forças aéreas de Belarús, expulsou o embaixador da Suécia de Belarús (que jurava que não sabia de nada dos planos daqueles pilotos). E o jornalista Anton Surapin ficou preso por uns meses na prisão da KGB por ser o primeiro que postou as fotos desses ursinhos na internet.
Os ursinhos: "Não pode nos calar", "Os brinquedos exigem a proteção de direitos humanos em Belarús". Naviny.BY

O ditador ficou louco por saber que o exército dele não funciona. Mostraram na TV oficial que suecos são inimigos, tentaram botar na prisão todos que acharam esses ursinhos e tiraram fotos com eles. E agora, depois disso tudo, as velhinhas, passadas por lavagem cerebral da TV, ficam assustadas vendo brinquedos de pelúcia...

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Dia de Finados em Belarús

Hoje belarussos também (que nem brasileiros) comemoram o dia de finados. Se chama "Dziady", o que literalmente significa "Avós". A data de "Dziady" para católicos é sempre dia 2 de novembro, já para ortodoxos a data varia - é o primeiro sábado antes de 8 de novembro (neste ano, então, 3 de novembro), porém a origem do feriado é pagã. 
A moeda de prata comemorativa "Dziady". NBRB.BY
Na verdade tem vários dias em homenagem aos antepassados, mas os principais são este e antes da páscoa. Belarussos vão aos cemitérios visitar túmulos dos parentes, reúnem as famílias no jantar, preparam pratos tradicionais, especiais para esse feriado (panquecas, ovos fritos, carne, e outros). Depois de jantar deixam um pouco de comida na mesa (não tiram pratos), para que de noite "avós" possam chegar e comer também. Nesse jantar de "Dziady", a família conversa sobre todos os antepassados que podem lembrar. Assim os mais novos membros da família podem aprender muito sobre os antepassados deles. 
Dziady. Foto do acervo da autora

Atualmente (a partir da década de 80 do século XX) surgiu outra tradição importante. Nos anos 1930, na época de Stalin, na URSS, tinha muitas repressões. O regime totalitarista matou muitos soviéticos, inclusive belarussos. Quase todo belarusso tem pelo menos um antepassado que foi mandado para a Sibéria ou foi morto por causa das repressões políticas naquela época (nem todos eram de fato contra o regime soviético). Só numa noite de 29 a 30 de outubro de 1937 mataram mas de 100 escritores, padres e cientistas belarussos em Kurapaty, um campo perto de Minsk. Agora tem um memorial naquele lugar, organizado pela oposição ainda na década de 1980.

Manifestação de "Dziady" em Kurapaty. 2 de outubro de 2012. Na frente - Siarhei Kavalienka, que foi preso por 1,5 ano por botar a bandeira nacional em cima duma árvore de Natal em 2010 na cidade de Viciebsk. NN.by
Todo ano na Dziady tem manifestações, com bandeiras nacionais, lideradas pela oposição. O governo belarusso nunca fala das repressões, nem de Kurapaty. As vezes até proibe manifestações lá e prende participantes. 

Um mês atrás surgiu na mídia uma informação de que estão construindo um centro de diversões do lado do memorial de Kurapaty. O governo não tem nada contra isso. Ativistas políticos escrevem notas para os órgãos do governo e organizam manifestações contra isso.

Belarús é o único país hoje, onde até agora existe a KGB, que matou tanta gente inocente. Existe até agora com o mesmo nome.